AO ACASO…
CAMINHAR, A PENSAR NA VIDA, NA INTELIGÊNCIA E EMOÇÕES HUMANAS
(PELO PEQUENO PERCURSO PEDESTRE DA QUINTA PEDAGÓGICA DO REBENTÃO)
Frequentemente fazemos este pequeno percurso pedestre pela quinta Pedagógica do Rebentão, em Vila nova de Veiga, freguesia de São Pedro de Agostém, concelho de Chaves, onde, no mesmo espaço, estão instaladas as Piscinas Municipais, a céu aberto, e o Parque de Campismo.
Trata-se de um percurso pedestre que é, simultaneamente, circuito de manutenção.
Aqui, há poucos meses, pegámos na nossa Fuji e, enquanto fazíamos o pequeno trilho, Ao Acaso…, maia em jeito de um caminhar/reflexão sobre a Vida e a Natureza, «batíamos» umas quantas fotos.
Foi o caminhar num dia de primavera que chegou tardia e em que as flores dos prunus se apresentavam com toda a sua exuberância
bem assim as pequenas e albas flores das cerejeiras bravas,
dispostas nas margens do trilho, a par de uma imensa variedade de plantas nativas, como este medronheiro,
e outras espécies exóticas.
Apreciador que somos da obra do nosso cientista português António Damásio, levávamos, debaixo do braço, a sua última publicação, que dá pelo nome de «A estranha ordem das coisas – A Vida, os Sentimentos e as culturas humanas».
Iniciámos este nosso percurso/reflexão na Receção do Parque de Campismo, subindo a rampa que nos leva até ao Restaurante da Quinta do Rebentão, tendo, do nosso lado esquerdo, a rede e sebe, de várias colorações, que separam o Parque de Campismo das restantes infraestruturas da Quinta, e, do nosso lado direito, as Piscinas Municipais.
Um velho carvalho, ao cimo da rampa, ainda calvo, sem ramos verdes e folhas, dava-nos as boas-vindas,
enquanto nos aproximávamos do edifício do Restaurante, onde, já lá vão alguns anos, ali comíamos um bom bacalhau, na companhia de bons amigos.
Fizemos a curva à direita e continuámos a subir, dando de frente com a velha árvore, guardiã da casa antiga da Quinta, e o seu portal.
Infletindo agora para a esquerda, continuámos a subir.
Por entre o arvoredo que ladeia o trilho, uma panorâmica das Piscinas Municipais.
Agora, nossa senda começa a ser mais suave e, poucos metros mais à frente, começa a descer um pouco.
Do nosso lado esquerdo, observamos as casas pré-fabricadas (vulgo, bungalows) do Parque de Campismo.
O terreno agora é plano.
À nossa direita umas escadas, com corrimão, que nos leva até ao primeiro «miramontes».
Não resistimos em subir e, debaixo da sua cobertura, à sombra, sentado no banco, olhando em frente, observávamos a povoação de Vila Nova de Veiga, tende a Este a sua alva igreja e cemitério, onde já jazem os restos mortais dos nossos entes queridos mais próximos. Estamos, por via deles, indelevelmente ligado a este pedaço de terra que, de coração, a adotámos como nossa, embora as nossas raízes mais fundas venham das ancestrais seivas das vinhas do nosso querido Douro.
Olhando para Norte, um pequeno cocuruto no termo da aldeia, mesmo nas proximidades do Km 5 da EN 2, dois edifícios, um sobreposto no outro, lembra-nos a vida que por eles repartimos e vivemos, fazendo parte da nossa história pessoal e familiar.
Não foram sentimentos de nostalgia aqueles que, naquele instante, nos ocorreram. Tão somente um simples encolher de ombros, num constatar que … é a vida!
Pegámos no livro que trazíamos, de António Damásio, e começámos a ler, desde a página donde, na véspera, tínhamos ficado.
Foi, seguramente, meia hora de leitura interessante, de um autor com um pensamento inovador. Gratificante, por isso..
A certa altura, voltámos atrás na leitura para, relendo uma passagem, fazermos uma pequena pausa para refletir, pensar.
Reproduzamos, para os nossos leitores, parte do parágrafo em questão:
“Não tenho quaisquer dúvidas de que a capacidade intelectual, a sociabilidade e a linguagem desempenharam papéis fundamentais no processo [da humanização], mas julgo que terá sido preciso algo mais para dar início à saga das culturas humanas. Esse «algo mais» foi um motivo poderoso. Estou a referir-me especificadamente aos sentimentos, desde a dor e o sofrimento ao bem-estar e ao prazer”.
No final deste capítulo, António Damásio, conclui:
“A ideia, na essência, é que a atividade cultural teve início nos sentimentos e deles continua a depender. Se quisermos compreender os conflitos e as contradições da condição humana, precisamos de reconhecer a interação, tanto favorável como desfavorável, entre sentimentos e raciocínio”.
Ruminando sobre estas palavras, descemos as escadas do «miramontes» para voltarmos ao nosso trilho.
E começámos a descer para a linha d’água que passa na Quinta.
Gostamos da vegetação que ladeia o percurso, embora constatemos que, no conjunto, há pinheiro a mais!
No fundo da descida, por entre a ramagem de uma cerejeira florida, aparecem-nos os casebres dos suínos monteses e dos póneis.
Junto à linha d’água, um outro abrigo, a requerer mais uma pequena paragem para mais uma leitura.
No capítulo, logo imediatamente a seguir, da obra de Damásio, um excerto do texto reteve mais a nossa curiosidade e atenção quando afirma:
“Na sua necessidade de lidar com o coração humano em conflito, no seu desejo de reconciliar as contradições apresentadas pelo sofrimento, pelo medo e pela fúria, e na busca do bem-estar, os seres humanos optaram pela maravilha e pelo deslumbramento e descobriram a música, a dança e a pintura, e a literatura. Prosseguiram criando as por vezes belas epopeias que dão pelo nome de «crença religiosa», dúvida filosófica e sistemas de governação. Do berço à cova, eis algumas das formas com as quais a mente cultural abordou o drama da condição humana”.
Levantámo-nos do banco, onde nos tínhamos sentado e, ultrapassando a linha d’água, qual filigrana fina e prateada no meio das ervas, por um pequeno pontão de madeira, prosseguimos o nosso caminho, ruminando, uma vez mais, agora sobre o parágrafo que acabáramos de ler há instantes,
enquanto passávamos por estes três troços do trilho.
(Troço I)
(Troço II)
(Troço III)
A certa altura, desviámo-nos à esquerda, para irmos ter com esta pequena represa de água.
E fizemos mais uma pausa para leitura, olhando as águas mansas deste pequenino lago.
Dois parágrafos do livro, que vínhamos lendo, ficaram-nos na mente.
Aqui os reproduzimos para, conjuntamente com os nossos(as) leitores(as), refletirmos:
“As nossas vidas atuais e os seus objetivos e práticas culturais podem ser ligados cautelosamente às vidas de outrora, antes de haver sentimentos e subjetividade, antes de haver palavras e decisões. A ligação entre os dois conjuntos de fenómenos percorre um labirinto complexo onde é fácil dar uma volta errada e perdermo-nos. Aqui e além, podemos encontrar o que resta de um fio orientador – o fio de Ariadne, claro – mas a orientação é difícil. A tarefa da biologia, da psicologia e da filosofia é fazer com que esse fio se torne contínuo (…)”
“Note-se que as extraordinárias capacidades de vigilância e de espionagem dos Governos modernos, dos colossos dos media e das empresas que espiam por encomenda, são apenas os mais recentes utilizadores desta invenção original da natureza [a homeostasia]. Não podemos culpar a natureza por desenvolver sistemas de vigilância homeostaticamente úteis, pelo contrário, mas podemos por em causa e julgar os Governos e as empresas que reinventaram a fórmula da vigilância unicamente para fortalecer o seu poder e o seu valor monetário. Questionar e julgar são direitos legítimos das culturas”.
Saímos do nosso abrigo de leitura e subimos em direção ao trilho.
À nossa esquerda próxima, as casas pré-fabricadas do Parque de Campismo, ao longe, encobertas pelo pequeno pinhal, um rincão cheio de memórias.
Prosseguimos a nossa pequena caminhada, passando por esta escolinha,
e por uma enorme gaiola, cujos aves fizeram greve ao cativeiro, indo à procura da sua Liberdade!
Estas pequenas cabras, que nada têm a ver com as que pelo nosso «reino» se criam, pacatamente, deixam-nos passar, indiferentes ao nosso caminhar; apenas uma para de procurar erva para olhar, de surpresa, um viandante tão solitário.
Descemos até ao refúgio dos faisões e outras aves de capoeira. Não demorámos aqui muito, não. Apenas ficou uma olhadela para trás e seguimos caminho.
Caminho esse já muito perto do términus da nossa caminhada.
Continuámos a caminhar, asfalto fora, até às proximidades deste lugar,
onde se encontrava a nossa viatura, muito próximo do nosso refúgio mata-saudades.
Foi apenas uma pequena, simples caminhada. Para arejar ideias…
Obviamente que este não é o lugar para fazermos a síntese não só do livro que andámos a ler como também da obra e pensamento de António Damásio! Positivamente não é agora, e aqui, fazer a síntese e sistematização do seu pensamento…
Apenas pegámos, para reflexão, em alguns excertos que mais despertaram a nossa curiosidade para partilharmos com quem nos lê. Tão só…
Às vezes faz falta fazer uma pausa das viciantes redes sociais, muitas vezes tão cheias de frases feitas e banalidades, dando-nos a ideia que nelas reside toda a sabedoria, e fazermos uma leitura mais aprofundadas de certos temas.
Informação, formação e cultura não se aprendem em leituras apressadas de textos e frases que passam a velocidades estonteantes nas milhares de «postagens» das redes sociais. Apenas criam em nós uma ilusão do saber. E, quando vamos dar conta, e bem espremer o que retemos, outra coisa não fica senão a fugaz sensação da fragilidade e pouca consistência desses conhecimentos mal digeridos.
Um enorme vazio – diríamos até, inquietação – nos apoquenta.
E necessitamos de algo mais consistente. Que só a reflexão autêntica e a dialógica nos pode não só satisfazer como acalmar, nesta inquietude que é a Vida.
Gostamos de caminhar – muitas vezes sozinho – pela Natureza. Ela, para nós, não é a imensa mole, a turba que nos persegue todos os dias nas ditas sociedades modernas em que vivemos. Ela nos propicia os momentos de silêncio, de que tanto carecemos, para melhor refletirmos sobre as grandes questões da vida que, não só hoje, mas sempre, apoquentam o Homem, ser vivo portador de Razão e Emoção.
VERSEJANDO COM IMAGEM
CARTA
Tenho demasiado sono para alimentar crenças.
Das casas vou preferindo os cantos interiores,
obsessivas sombras em que vou julgando.
Se me acerco das janelas é apenas para ver o longe,
as ténues linhas do azul inatingível.
As portas, fechadas ou abertas, pouco valem.
Desfaleceram com o desencanto do caminho.
Vou ficando pela distracção de desejos mansos,
sem guardar réstia de glória nem consolo.
Assim, dou feriado à minha existência.
Sofro a fadiga das viagens que nunca ousei.
Mas não me dedico nenhum desalento.
Porque mantenho dos índios o preceito
de envolver com panos os cascos dos cavalos guerreiros.
Assim protejo a gravidez da terra.
Fica a esperança:
outros farão vencer as nossas pequenas razões.
Saberemos então do seu tamanho, da sua pressa de ser cedo.
De tanto pensarmos fomos ficando sós.
De amarmos venceremos o cerco dessa solidão.
Que este cansaço sirva, ao menos,
para não culparmos nada nem ninguém.
(Mia Couto)
VERSEJANDO COM IMAGEM
PEQUENINURA DO MORTO E DO VIVO
O morto
abre a terra: encontra um ventre
O vivo
abre a terra: descobre um seio.
(Mia Couto)
AO ACASO…
O ESPÍRITO BARROSÃO DE ANTANHO, POR MIGUEL TORGA
Foi, há pouco mais de dois meses, que, ao acaso, numa das nossas incursões pelas aldeias do Barroso, fomos ter a Carvalhelhos, no concelho de Boticas.
Na sua singela capelinha, na fachada principal, demos com uma placa de granito, tendo encrustada uma chapa de metal. Nela, uma introdução do Diário VIII, de Miguel Torga, com uma entrada, com data de 25 de junho de 1956 que rezava assim:
“Carvalhelhos, 25 de Junho de 1956
Olho a serra. E diante desta natureza sem disfarces, aberta para todos os horizontes, sinto como que uma centrifugação do espírito. Ando, e parece que voo; tento localizar-me, e perco-me na indeterminação. Uma espécie de nomadismo de alma descentra-me e liberta-me das amarras mesquinhas da vida compartimentada. E compreendo de repente a força universal que impregna os gestos e as palavras destes barrosões, puros na impureza, que lavam as mãos no sangue dum semelhante e há mil anos que descobriram o cepticismo moderno. Homens para quem o absoluto é relativo clarificado, e que por isso entregam desta maneira a filha ao namorado que lha pede em casamento:
Pastora é,
Gado guardou;
Se sebe saltou;
Se nalguma se picou,
Tal como está
Assim vo-la dou…
(Miguel torga, in Diário VIII)”
Dentro da rudeza destas gentes de antanho, quanta sinceridade e nobreza!
Hoje, dignidade, autenticidade, sinceridade, pureza e mais outros atributos de alma que agora não nos ocorrem, mas tão lídimos do que era ser barrosão e português, onde estão?...
Sinal dos tempos, dirão uns.
E que tempos tão espúrios os que por que passamos!!!
VERSEJANDO COM IMAGEM
IDENTIDADE
Preciso ser outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato
morro
no mundo por que luto
nasço.
Mia Couto
MEMÓRIAS DE UM ANDARILHO POR TERRAS DA IBÉRIA
PARQUE NATURAL DO LAGO DE SANÁBRIA E ARREDORES
CAMINHADA AO PICO VIZCODILLO E LAGO DE TRUCHILLAS
(30.agosto.2018)
Desde a nossa subida até ao pico mais alto da Sanábria – Peña Trvinca, entre as províncias de Zamora (Castela e Leão) e Ourense (Galiza) -, através do Porto de Sanábria, tínhamos vindo a ser desafiado pelo amigo Pablo Serrano para irmos até Vizcodillo, o 2º ponto mais alto do Parque Natural do Lago Sanábria e Arredores, depois de Peña Trevinca.
A não ser uma incursão de pouco mais de oito dias, com Florens, na primavera, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, este ano, pela nossa parte, e por razões imponderáveis, de natureza familiar, foi parco em saídas para efetuar caminhadas pela nossa linda Ibéria.
Depois de uma hibernação de quase quatro meses, e um pouco mais descomprimido, definitivamente aceitámos o desafio de Pablo. E fomos, então, no dia 30 de agosto passado até ao Pico de Vizcodillo, passando pelo Lago de Truchillas, ali pertinho.
Vizcodillo encontra-se em plena serra da Cabrera, com uma orientação este-oeste, separando a vertente zamorana de Sanábria da leonesa de Baña. Os seus picos mais significativos são o Picón, Faeda e, naturalmente, Vizcodillo, com 2122 metros de altitude, ou seja, com apenas menos cinco metros que o de Peña Trevinca. Todos eles pertencentes ao Maciço Galaico-Leonês.
Normalmente, distingue-se a Cabrera Baixa, que corresponde ao traçado ocidental da serra, e que vai desde Peña Vidulante até ao cerro ou colina posterior – o Alto do Peñon ou Alto de Escudero -, sendo a sua elevação maior o Picón, com 2019 metros de altitude.
A serra Cabrera Alta ou Serra Negra é onde se situa Vizcodillo, o pico com maior altura desta serra.
Embora nos tenhamos levantado cedo, quase de madrugada, o certo é que, de Chaves, passando por Verín, onde fomos ao encontro do amigo Pablo, já passavam das 10 horas e 40 minutos (hora espanhola) quando demos início à nossa caminhada.
Estacionámos a viatura num pequeno aparcamento, nas proximidades do Alto do Peñon ou Alto de Escudero, numa altitude de 1841 metros, depois de andarmos por uma estrada de montanha sinuosa e com um piso em fraco estado.
O lugar onde estacionámos serve de divisória natural entre as vertentes serranas zamorana e leonesa.
Mal nos preparávamos para dar início à nossa caminhada, aparece-nos este simpático motoqueiro, vindo, por terras da montanha leonesa, de Benavente.
Logo de início, esperava-nos uma pequena subida, na abrupta vertente leonesa sanabresa, até chegarmos ao Alto dos Alamicos.
Contudo, nosso intento, mais que efetuar uma caminhada, era fazer um calmo e vagaroso passeio.
Daí, aqui e ali, Pablo parava para não só nos indicar as diferentes espécies autóctones, que proliferam por estas bandas, como para apanhar – e comer – pequeninos mirtilos («arandanos») silvestres.
Ao nosso redor, do lado esquerdo, eis a mole de Teleno.
O solo, por onde passávamos, num simples e estreito carreiro, de pé posto, coberto de pequenos e rastejantes arbustos típicos destas paragens, era composto por estes blocos de pedra, de rochas soltas.
Andando um pouco mais, ao longe, já visionávamos a grande mole de Vizcodillo, com dois picos. O da direira é o Vizcodillo.
Trata-se, como já afirmámos, da segunda montanha mais alta da Sanábria, com perfis suaves, arredondados, aliás, como quase todas as montanhas da zona,
apresentando as maiores escarpas na vertente leonesa.
Pelo caminho, em passo pausado, tínhamos tempo para observar a vegetação autóctone, rasteira, resistente à inclemência do clina, como esta «sabina».
A certa altura, inopinadamente, Pablo dá conta de uma «rabeca». Ele consegue ainda captá-la com a sua objetiva. Nós não fomos a tempo.
Embora a sinalização aqui seja muito fraco, simplesmente composta por uns frágeis paus de madeira e muitas «mariolas» feitas pelos diferentes caminheiros, tendo em conta que estamos num dos parques mais emblemáticos de Espanha, com alguma atenção e cuidado, estando bem atentos a pequenos sinais de trilho, lá nos fomos desenrascando e não nos perdermos.
E não descurámos de contemplar a composição rochosa, composta maioritariamente por quartzitos, e a florística de seu solo, bem assim, uma vez mais, a imensa mole do Teleno, que não nos largava, sempre a nossa esquerda, tendo como pano de fundo o vale do rio Truchas.
Chegou a altura, depois da passagem por esta passadeira verde e lilás,
e por uma zona mais rochosa,
agora mais acompanhados por um tapete mais predominantemente lilás,
de fazer uma paragem. E observarmos os frutos desta «sabina».
O lugar convidava-nos a uma pausa. De contemplação e de relaxamento. Numa atmosfera saudável, de ar puro, de um agradável cheiro, por entre tanta cor de lilás!
Olhando para trás, e do nosso lado esquerdo, muito perto da linha do horizonte, a albufeira («embalse») de Valparaíso e, escondida pelo conjunto montanhoso, a de Peña Mira.
A paisagem que nos rodeava era um regalo para as nossas vistas!
Começávamos, a partir daqui, a nossa verdadeira subida – se bem que, tendo ultrapassado apenas uma baixada, o trilho era todo a subir – com um piso mais rochoso, levando-nos ao cimo de Vizcodillo,
ao longo de um entorno a constantemente nos convidar à sua contemplação!
Sozinhos, sem um único murmúrio, estávamos, positivamente, entre o céu e a terra, respirando e usufruindo de paz e tranquilidade!
Olhámos uma vez mais para trás. Agora sim, à nossa esquerda, sob plena serra Segundera e Cabrera, o Lago de Sanábria!...
Estávamos já muito perto de atingir o Pico de Vizcodillo, ali à nossa frente. Vislumbrámo-lo com o «zoom» da nossa objetiva.
Agora, para lá chegarmos, havia que trepar pelos enormes calhaus que o constituem, com muito cuidado, para não nos magoarmos ou provocarmos qualquer entorse.
Eis o nosso companheiro de jornada subindo pela montanha de calhaus, que constituem o Pico, com «ganas» de atingir, como ele dizia – a «cumbre».
E, assim, chegávamos ao vértice geodésico de Vizcodillo!
No cimo do Pico, e em jeito de brincadeira, amigo Pablo, apontava para esta pequena cova irregular e rugosa na rocha à nossa frente. E dizia-nos:
- a cama de Luciano!
Era tempo agora de tirar as fotografias da praxe no cimo do Pico, no marco geodésico.
Ao nosso redor tínhamos o Teleno, as serras Segundera e Cabrera, com a omnipotente e sempre presente Trevinca e seus satélites. Um espetáculo maravilhoso!
(Perspetiva I – Com o Lago Sanábria, ao longe)
(Perspetiva II – Com as albufeiras de Valparaíso e Peña Mira, ao longe)
Desde o nosso lugar de partida – o Alto de Peñón –, e até ao Pico de Vizcodillo, tivemos de ultrapassar, sensivelmente, mais de 300 metros de altitude.
Era tempo de descer.
E descemos ainda com mais cautelas do que quando subimos. As «rodillas», na nossa idade, acusam o desgaste dos anos!
Depois da cautelosa descida, perdidos por entre o «brejo» anão, olhávamos para trás, observando o objetivo a que hoje nos tínhamos proposto – ter estado lá!
E, porque tão perto, não podíamos perder de vista o Lago de Truchillas.
Para lá chegar, inexplicavelmente, perdemo-nos do trilho, caminhando com dificuldade por cima do duro «brejo», que parecia um imenso colchão duro, picando-nos os pés, e agora sob um sol que, a pique, queimava.
O mesmo solo, com as mesmas rochas,
e a mesma vegetação.
(Pormenor I)
(Pormenor II)
Felizmente, em pouco tempo, encarreirámos com o trilho e, em breves minutos, de complicada caminhada para nós, pois, em vez de botas de montanha, calcávamos umas simples e frágeis sapatilhas, chegávamos à vista do Lago de Truchillas. Ei-lo a nossos pés!
Estávamos, positivamente, cansado. Precisávamos de uma pequena pausa – para descansar; contemplar este maravilhoso espetáculo; hidratarmo-nos e comermos qualquer coisa.
Sentámo-nos, pois, quer nós,
quer o amigo Pablo.
Pablo apresentava-se mais fresco e, passados uns minutos, subindo a um pedregulho, deu ordens de partida.
O caminho continuava estreito, indefinido e pedregoso, aqui e ali.
mas de encher as vistas com as suas paisagens.
Depressa Pablo se apercebe que, por falta de treino, estávamos em dificuldade para, subindo, rodear o Pico Vizcodillo.
Por isso, com algumas pausas, rodeámos apenas o Barranco Malicioso. E não fomos, como seria nosso gosto, até à Lagoa com o mesmo nome. Por nós, porque estávamos cansados, pelo calor e pela subida em solo irregular; pelo Pablo, talvez por solidariedade para connosco e, quem sabe, face ao nome que a lagoa tem, por superstição. Quem sabe?!!!
Rodeado o Vizcodillo, acordámos em fazer uma pausa mais demorada para descansarmos um pouco. E sentámo-nos por uns minutos.
Depois daquela subida, e desta paragem, como por artes mágicas, para nós, o trilho tornou-se leve e, sem darmos por isso, nossos pés pareciam uma pena, voando. Vá lá entender o comportamento do corpo humano. Ou da nossa cabeça!...
Entretanto, pelo caminho, amigo Pablo não se cansava de «caçar» ângulos de paisagem para captar com a sua objetiva.
Realizado o pequeno desvio de Vizcodillo para irmos ao Lago de Truchillas, voltámos ao nosso trilho inicial, de volta.
Umas boas centenas de metros andados, olhando para trás, dizíamos adeus a Vizcodillo.
Depois de uma pequena descida, começou a nossa última subida até ao cimo do Alto de Peñón.
À nossa frente, a imensa mole do Maciço Galaico-Leonês de Trevinca. Digno de se ver!
Chegámos ao aparcamento onde estava a nossa viatura. Mudámo-nos e preparámo-nos para descer até San Martín de Castañeda, onde, ao fim da tardinha, iríamos assistir ao II Encontro Internacional de Mascarada Ibérica.
Mas antes, a meio do percurso, parámos aqui.
Aqui nos hidratámos e comemos o resto da nossa merenda, enquanto, ao longe, vislumbrávamos, de dois, à direita, o Pico de Vizcodillo onde, poucas horas antes, no seu cume, tínhamos estado.
Deixámos aos nossos(as) leitores(as) o mapa do nosso trilho, com a nossa ida até ao Pico de Vizcodillo, ponteado a azul, e a nossa ida até às proximidades do Lago de Truchillas, e vinda, a vermelho.
Segundo a nossa app da SHealth, percorremos a distância de 10 Km 410 metros, em 3 horas e 54 minutos,
com a velocidade e a elevação constante do gráfico que abaixo se exibe, o qual mostra um erro, em termos de altitude, em cerca de 10 metros, por não estar devidamente aferido o GPS.
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