VERSEJANDO COM IMAGEM
DESCALÇA VAI PARA A FONTE
I
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura:
Vai formosa e não segura.
II
Se tivesse umas chinelas
iria melhor…; mas não:
co dinheiro das chinelas
compra um pouco mais de pão.
Virá o dia em que os pés
não sintam a terra dura?
Leonor sonha de mais:
vai formosa e não segura.
Formosa! Não vale a pena
ter nos olhos uma aurora
quando na vida – que vida!
o sol já se foi embora.
Se os filhos se alimentassem
com a sua formosura…
Leonor pensa de mais:
vai formosa e não segura.
Há verdura pelos prados,
há verduras no caminho;
no olmo ao pé da fonte
canta, livre, um passarinho.
Mas ela não canta; não,
que a voz perdeu a doçura.
Leonor sofre demais:
vai formosa e não segura.
Porque sofre? Nunca soube
nem saberá a razão.
Vai encher a talha de água,
Só não enche o coração.
Virá um dia… virá…
Os olhos voam na altura.
Leonor não anda: sonha.
Vai formosa e não segura.
António Magalhães Cabral
Antologia de Poemas Durienses
Sandro Botticelli, A Primavera (pormenor)
PALAVRAS SOLTAS...
NO DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
(A nossa primeira foto: Nevada de 1970, Senhora da Saúde, S. Pedro de Agostém/Chaves)
Citemos, neste Dia Mundial da Fotografia, pequenos excertos de três autores, de áreas bem diferenciadas, que nos falam sobre a fotografia, a modos de «palavras soltas...»:
“Diz-se muitas vezes que foram os pintores que inventaram a Fotografia (transmitindo-lhe o enquadramento, a perspetiva albertiana e a ótica da camara escura. E eu digo: não, foram os químicos. Porque o noema «Isto foi» só foi possível a partir do dia em que uma circunstância científica (a descoberta da sensibilidade à luz dos sais de prata) permitiu captar e imprimir diretamente os raios luminosos emitidos por um objeto diferentemente iluminado. A foto é literalmente uma emanação do referente. De um corpo real que estava lá, partiram radiações que vêm tocar-me, a mim, que estou aqui. Pouco importa a duração da transmissão; a foto do ser desaparecido vem tocar-me como os raios emitidos por uma estrela. uma espécie de ligação umbilical liga o corpo da coisa fotografada ao meu olhar; a luz, embora impalpável, é aqui um meio carnal, uma pele que eu partilho com aquele ou aquela que foi fotografado” (Roland Barthes, 2006: A Câmara Clara. Notas sobre a fotografia, Edições 70, pág.s 90 e 91).
“No fundo - ou em última instância -, para se ver bem uma foto, o melhor é erguer a cabeça ou fechar os olhos. «A condição prévia da imagem é a vista», dizia Janouch a Kafka. E Kafka sorria e respondia: «As pessoas fotografam coisas para as afastar do espírito. As minhas histórias são um modo de fechar os olhos». A fotografia deve ser silenciosa (há fotos tonitruantes, dessas não gosto): não se trata de uma questão de «descrição», mas de música. A subjetividade absoluta só é atingida num estado, um esforço de silêncio (fechar os olhos é fazer falar a imagem no silêncio). A foto toca-me quando a retiro do seu «bla-bla» vulgar: «Técnica», «Realidade», «Reportagem», «Arte», etc.: nada dizer, fechar os olhos, deixar que o pormenor suba sozinho à consciência afetiva” (Roland Barthes, idem, pág. 64).
“O pintor constrói, o fotógrafo revela” (Susan Sontag, 2012, Ensaios sobre fotografia, Quetzal Editores, pág. 94).
“Sejam quais forem os argumentos morais a favor da fotografia, o seu principal efeito é converter o mundo num grande armazém ou museu sem paredes, em que todos os temas são reduzidos a artigos de consumo, promovidos a objetos de apreciação estética. Através da câmara, as pessoas tornam-se consumidoras ou turistas da realidade - ou Réalités, como sugere o título da revista francesa -, uma vez que a realidade é entendida como plural, fascinante e pronta a ser capturada. Ao aproximar o exótico das pessoas, ao tornar o exótico o que é familiar e doméstico, as fotografias possibilitam um olhar apreciativo sobre o nosso mundo inteiro” (Susan Sontag, idem, pág. 111).
“Em fotografia, mostrar qualquer coisa é mostrar o que está oculto” [...] Tal como os fotógrafos o descrevem, o ato de fotografar é tanto uma técnica ilimitada de apropriação do mundo objetivo como uma expressão inevitavelmente solipsista do eu singular” Susan Sontag, idem, pág. 121).
“A fotografia entrou em cena como uma atividade arrogante, que parecia usurpar e diminuir uma arte com créditos firmados: a pintura. Para Baudelaire, a fotografia era o «inimigo mortal» da pintura; mas, com o tempo, negociaram-se tréguas e a fotografia foi considerada como a libertadora da pintura [...] Na verdade, a ideia mais persistente nas histórias e na crítica da fotografia é este pacto mítico entre pintura e fotografia, que lhes permite prosseguirem as suas tarefas separadas mas igualmente válidas, enquanto se influenciam de forma criativa” (Susan Sontag, ibidem, pág.s 143 e 144).
Embora a fotografia tenha «nascido» há 177 anos, foi, contudo, durante o século XX, que atingiu o seu apogeu, a sua plena maturidade.
Por isso, vale a pena dar uma breve passagem, dando uma vista de olhos, fazendo uma breve leitura sobre a obra Fotografia do século XX Museum Ludwig de Colónia, publicada em 2001 pela Tascher.
Na Introdução a esta obra, Reinhold Miβelbeck, reiterando as palavras acima citadas de Susan Sontag, a determinada altura, escreve: “A invenção da fotografia, como dizem as pessoas vulgarmente, libertou a pintura da necessidade de reproduzir a realidade. Ao fazê-lo, herdou géneros como o retrato e a pintura histórica e contribuiu para o desenvolvimento do Modernismo. O facto deste processo ter tido lugar, pela primeira vez alguns 70 anos após a invenção da fotografia, depois da pintura ter ultrapassado as tendências naturalistas e realistas, passando pelo Impressionismo, não contradiz de modo algum esta opinião. Demonstra, aliás, que teve lugar a um diálogo moroso e que foram precisamente as experiências que a pintura adquiriu com o Naturalismo e o Impressionismo que tornaram evidentes que a fotografia estava mais bem equipada para representar a realidade com exatidão e para captar disposições e momentos e, a certa altura dos desenvolvimentos, tornou-se claro para todos que o sdois meios tinham agendas bastantes diferentes”.
No final da sua Introdução, Reinhold Miβelbeck conclui: “A relação íntima entre imagem e realidade, tão própria da fotografia, encorajou acima de tudo os artistas a utilizarem-na para as suas visões imaginárias. Ao mesmo tempo, os artistas não estavam apenas interessados em estabelecer os limites da capacidade da fotografia em conseguir dar uma reprodução fiel da realidade, mas também em explorar o meio e os limites em si. Em todas estas correntes, a fotografia é usada de um modo concetual. Não só cumpre o que é tecnicamente capaz de fazer - espelhar a realidade -, mas simultaneamente reflete o que está a fazer.
A fotografia está de momento a viver uma grande transformação. Está a mudar de um meio que tradicionalmente trilhava o seu próprio caminho, longe da história da arte, para um ramo das belas -artes. E é de notar que os jovens artistas já têm medo de se aproximar das fontes históricas da fotografia e destruí-las pela sua arte”.
Neste Dia Mundial da Fotografia vamos destacar, de entre muitas outras «celebridades», três fotógrafos, do século passado, em que as suas obras se debruçam sobre a realidade da sociedade em que viveram.
O primeiro - Jean Dieuzaide. A sua carreira começou no dia 19 de agosto de 1944 quando tirou fotografias da libertação de Toulouse, a sua terra natal, tornando-se um fotojornalista de renome.
Deixamos aqui uma foto, da sua autoria, do célebre, e grande, surrealista Dalí, Dalí na água, Cadaquès, tirada em 1953, durante uma viagem a Espanha.
(Impressão a gelatina e brometo de prata, 31x24,5 cm, ML/F 1984/31 - Doação Gruber)
Por se tratar de uma foto tirada por Jean Dieuzaide em Portugal a uma bonita mulher portuguesa, em 1954, na Nazaré, deixamos aqui, deste autor, o registo da «sua» Tiulinda.
A nossa segunda «celebridade» é a americana Dorothea Lange. A sua obra constitui uma das mais importantes contribuições para «documentários sociais de fotografia de maior compromisso no século XX».
Chocada com o número de desalojados à procura de emprego durante a Grande Depressão, Dorothea Lange decidiu tirar fotografias de pessoas na rua para chamar a atenção para as situações que retratava.
A foto que abaixo reproduzimos, com o título Mãe Migrante, Califórnia, 1936, é uma das suas mais famosas.
(Impressão a gelatina e brometo de prata, 32x26,1 cm, ML/F 1977/442 - Coleção Gruber)
É o retrato de uma trabalhadora que migrou da Califórnia com os seus três filhos. Segundo Reinhold Miβelbeck, “esta imagem extremamente concentrada e rigorosamente composta fez de Dorothea Lange um ícone da fotografia socialmente comprometida”.
O terceiro trata-se de A. Kertész. Reproduzimos duas fotos, cada uma com o seu comentário, retirado da obra citada acima de Roland Barthes, A Câmara Clara.
(Piet Mondrian no seu atelier, Paris, 1926)
“Como é possível ter-se um ar inteligente sem se pensar em nada de inteligente?”
(O cãozinho, Paris, 1928)
“Ele não olha nada; retém dentro de si o seu amor e o seu medo: é isso olhar”.
Diz-se frequentemente que uma imagem vale mais que mil palavras.
E que dizer destas duas imagens, que aqui vos deixamos, ao espelharem e refletirem o drama atual dos refugiados sírios, numa guerra sangrenta e desumana, da qual todos nós, cidadãos do mundo, somos cúmplices, e cujas maiores vítimas são as crianças representadas nestas fotos?
(O menino sírio afogado - Fonte:- https://noticias.terra.com.br/mundo/asia/a-historia-por-tras-da-foto-do-menino-sirio-que-chocou-o-mundo,a491948f737fabaedc2b65294952c1d8zbulRCRD.html)
(O menino de Aleppo e a tragédia na Síria - Fonte: http://observador.pt/2016/08/18/a-foto-do-menino-de-aleppo-que-retrata-a-tragedia-na-siria/-)
Nona
VERSEJANDO COM IMAGEM
Antes da noite inteira (I)
Esperei tão longamente que cansei do cansaço
Enquanto as Primaveras se exauriam
E os Invernos escorriam nos cabelos
Enrugando demais o coração.
Esperei ao frio, ao vento, ao desalento
Mas nenhuma magnólia floresceu
Ou espinho acerbo veio ferir-me a mão.
Maria da Purificação - «Antes da noite inteira»
MEMÓRIAS DE UM ANDARILHO
CAMINHADAS NAS VIAS FÉRREAS ABANDONADAS
LINHA (DE CAMINHO DE FERRO) DO CORGO
Ermida/Povoação - Pedo da Régua
- 21.novembro.2010 -
Com este post, damos por finalizada a nossa reportagem sobre a nossa caminhada pela antiga Linha de Caminho-de-ferro do Corgo.
No post anterior e neste, a nossa caminhada decorre(u) em pleno coração do Douro Vinhateiro, Património da Humanidade.
A altura em que ocorreu a nossa caminhada, em pleno outono, é a que mais gostamos, porquanto o Douro apresenta-se nas suas multifacetadas cores.
(Paisagem I)
(Paisagem II)
O dia, embora com algumas nuvens, apresentava-se com um lindo céu azul.
Do fundo do estreito vale do Corgo, a presença sempre constante, na linha do nosso horizonte, da A24 e as suas obras de arte para ultrapassar os diferentes desníveis que a orografia do Douro Vinhateiro apresenta.
(Paisagem III)
(Pormenor I da paisagem III)
(Pormenor II da paisagem III)
Dos antigos «mortórios» começam a renascer novas vinhas, sob a proteção de capelas e igrejas, a meio ou no cimo das encostas, na esperança da transformação de uma terra mais próspera para os que nela habitam.
Por mais voltas que demos, o rio Corgo e o seu vinhedo não nos largam, apresentando-nos aos olhos os antigos socalcos, numa amostra do esforço hercúleo do homem duriense para erguer estes jardins suspensos.
(Paisagem IV)
(Paisagem V)
(Paisagem VI)
(Paisagem VII)
(Paisagem VIII)
Aqui e ali a linha estreita-se, dando-nos a conhecer uma das matérias-primas de que são feitos os vinhedos e o segredo que o xisto guarda para proteger a videira e poder produzir o precioso néctar que é o Vinho Fino do Douro.
Até que chegámos a Alvações do Corgo, a 7, 188 Km do fim da linha (ou princípio, para quem parte do Peso da Régua).
E, quer nos viremos para a esquerda ou para a direita ou mesmo em frente, o espetáculo é sempre o mesmo: o rio Corgo sustentando os seus vinhedos, em ambas as suas margens, com o casario quase no cimo dos seus cocurutos.
Até que, numa ligeira curva, a gigantesca obra de arte da A24, destinada a ultrapassar o rio Douro nas imediações do Peso da Régua, com toda a sua imponência e grandiosidade!
Atravessada a ponte sobre o rio Tanha, sob o olhar atento do nosso vigilante Augusto - qual miniatura postada sobre um muro - no términus da ponte,
chegámos ao apeadeiro do Tanha.
Faltavam-nos ainda percorrer 3, 5 Km para chegarmos à estação do Peso da Régua.
Do nosso lado direito, a ponte sobre o rio Corgo na Estrada Nacional 313.
Olhando um pouco mais em frente e um pouco mais para o alto, eis as autênticas cores do vinhedo no outono, na Quinta do Judeu, e a imponente estrutura que ali, parecendo uma enorme curva, sustenta a A24!
Uns metros mais à frente, o rio Corgo, em deslize remansoso, passando sobre a penúltima ponte ferroviária desta linha (para quem vem no sentido de Chaves), tendo, como pano de fundo, o último lanço da ponte da A24, em direção a Lamego, e os armazéns da Casa do Douro (Casa Amarela).
E, sem nos darmos conta, chegámos ao apeadeiro do Corgo.
Pouco mais de um quilómetro nos separava da nossa «meta».
Antes de entramos na penúltima ponte da linha do Corgo - e sobre este rio -,
uma olhadela para trás, como dizendo adeus ao amigo que em tantos quilómetros nos acompanhou, ora dando-nos momentos alegres, ora fazendo-nos passar por momentos bem difíceis,
e outra olhada para a frente, para o lugar onde este precioso caudal se lança nas águas da veia cava transmontana - o rio Douro - na sua foz.
Ultrapassado o último pontão da linha, nas proximidades da Quinta da Vacaria,
eis o espetáculo que nossos olhos observam: a bonita obra de engenharia da A24 nas imediações do Peso da Régua, debaixo da qual podemos espreitar, vendo, de socalco em socalco, o monte de São Domingos!
Estamos a escassas dezenas de metros da Estação da Régua.
Por entre um laranjal, a vista das duas pontes da Régua da nossa infância: a da esquerda, rodoviária, que foi projetada para ser ferroviária, numa linha que, da Régua a Lamego, nunca foi acabada e, consequentemente, utilizada, sendo a linha mais cara do país em termos de custo/benefício; a da direita, projetada para ser rodoviária, por ela, cremos, nunca passou uma viatura automóvel.
Quando, a 21 de novembro de 2010, por aqui passámos, apresentava este aspeto:
Hoje está recuperada como ponte peatonal, de recreio.
Cumprido o nosso objetivo, e aproximando-se a hora do almoço, o nosso vigilante e supervisor Augusto levou-nos até à localidade de Ermida/Povoação na sua viatura. Rui e Tó Quim tomaram rumo a norte (Chaves), levando o atrelado tenda no jeep; nós regressámos a sul, levando a nossa viatura até à Estação da Régua, onde a Ana e o amigo Neca nos esperavam para irmos almoçar à Quinta de Santa Isabel, Loureiro.
E como é reconfortante passar uns dias no «nosso» Douro. Não apenas «matamos saudades», mas também recarregamos «baterias» para melhor suportarmos e aguentarmos o dia-a-dia, muitos deles tão fatigantes e, por vezes, penosos!
E... até breve.
A Linha do Sabor espera-nos.
DE LA PULCHRA LEONINA A LA SANCTA OVETENSIS
CAMINHO DE SÃO SALVADOR
3ª etapa:- La Robla-Buiza
(30.abril.2016)
De La Robla a Buiza são 14 quilómetros e 580 metros, aproximadamente. Gastámos 3 horas e 48 minutos. Andámos nas calmas.
Dormimos no albergue de La Robla acompanhados de duas irmãs espanholas e, chegando mais à tardinha, um peregrino alemão, de Bremen, de seu nome - Martin.
As duas irmãs espanholas levantaram-se muito cedo e abalaram. E nunca mais lhes vimos o rasto pelo Caminho.
Quer nós, quer o Florens, levantámo-nos nas calmas e, feita a higiene matinal e vestidos, dirigimo-nos ao centro de La Robla, onde, num café/ croissanteria junto à Praça da Constituição, tomámos o pequeno-almoço.
Regressados ao albergue, quase no final de La Robla, e mochila às costas, iniciámos a nossa etapa de hoje.
Não vamos referir em pormenor o percurso. Nos Guias de que já falámos em post anterior à reportagem deste Caminho, e principalmente no Eroski Consumer, vem tudo bem descrito, evitando-se, desta feita, repetições.
Contudo, destacamos alguns pontos que, ao longo desta nossa jornada, mais nos despertaram a atenção.
Assim, logo à saída de La Robla, este aqueduto.
Conforme se pode ver, o mesmo tem colocado uma placa que reza assim, traduzindo livremente do espanhol (castelhano): “Este aqueduto, único no seu género, na província de Leão, estava a ser construído em 16 de abril de 1795, quando Gaspar Melcher de Jovellanos, de passagem por estas terras, ficou impressionado pela magnitude da obra, deixando testemunho no seu diário.
Texto: Juan José Sánchez Badiola. Aqueduto restaurado pela junta Vecinal de La Robla, ano 2002, sendo Presidente José Luis García Fernández”.
Passado o aqueduto, sob o qual correm as águas do rio Bernesga,
aparecer-nos imediatamente a ponte de Ponte de Alba.
Ponte de Alba foi muito importante noutros tempos e, alguns autores, referem a sua mais que provável relação medieval com o Castelo de Alba, onde, quem passasse poe ela, pagava portagem.
Hoje Ponte de Alba não passa simplesmente de um pequeno bairro de La Robla.
Saídos de Ponte de Alba, começa-nos a aparecer, ao longe, as montanhas da Cordilheira Cantábrica e, junto de nós, a linha de caminho-de-ferro por onde, e nas suas margens, acompanhámos durante uns largos metros.
Logo a seguir a Ponte de Alba, o primeiro povo que atravessámos foi Peredilla de Gordón
com o casario típico leonês.
Ultrapassado um pequeno túnel (viaduto) da linha de caminho-de-ferro,
voltámos, mais uma vez, a acompanhar a via férrea.
Até que chegámos à ermida/capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Neste santuário, que se encontrava fechado, podemos observar a sua fachada principal, protegida por uma galilé.
Do outro lado da linha, esperava-nos um café/bar com algumas variedades de tortilhas. Provámos duas delas. Qual delas a melhor!
Comemos.
Ficámos deliciados. E mais aptos ainda para nos lançarmos no novo troço de Caminho que nos esperava,
andando sempre por perto do rio Bernesga e do seu vale.
Passámos ao lado da aldeia de Nocedo de Gordón,
com a sua vetusta igreja e o seu caraterístico casario,
atravessando este vale
e passando por baixo desta enorme ponte que atravessa o vale servido pelo Bernesga, antes de subirmos até Póla de Gordón,
acompanhados, uma vez mais, pela linha de caminho-de-ferro,
não nos passando desapercebido este pequeno pontão que a serve
e passando, depois, pela Subestação da Rede Elétrica de Espanha
de Pola de Gordón.
(Um pormenor da Subestação)
Voltando, uma vez mais, à linha férrea,
eis, à nossa frente, o casario de Pola de Gordón.
Atravessada a linha por um túnel subterrâneo,
entrámos em Pola de Gordón acompanhados pelo omnipresente rio Bernesga.
Pola de Gordón é quase uma pequena cidade, moldada por três grandes eixos que marcaram o seu mais recente crescimento: o rio Bernesga; o traçado do caminho-de-ferro e a estrada das Astúrias.
Pola de Gordón é a capital do Alto Bernesga - a Reserva da Biosfera Alto Bernesga, declarada a 25 de junho de 2005.
Para além do seu valioso património natural, do seu património cultural e paisagístico, destacando-se o Caminho da Prata, o do Salvador, a transumância e as suas minas, Pola de Gordón foi palco destacado da Guerra Civil Espanhola: as «Trincheiras de Gordón», como património bélico, aqui estão para atestá-lo.
Uma vez chegados a Pola de Gordón fomos à procura de um bar/restaurante para almoçarmos.
Pela sua rua principal desfilou perante os nossos olhos o seu típico casario
e os seus edifícios públicos,
como a Câmara Municipal (Ayuntamiento),
(Perspetiva de esquina)
(Perspetiva frontal)
a pequena Praça del Cano
e, adossada ao edifício do Ayuntamiento, esta singela capela.
Depois de comermos, e após um pequeno descanso, fomos a um supermercado comprar mantimentos para o jantar e para o pequeno-almoço do dia seguinte (pois no povo onde iríamos pernoitar não há qualquer «tienda»). E botámos pés ao Caminho, atravessando, outra vez, a sua rua principal, até que, quase no final da mesma, nos aparece a Igreja Matriz de Pola de Gordón,
bem assim, já mesmo à saída, este belo edifício de 1927.
Saindo de Pola de Gordón, começámos, lentamente, a entrar na montanha,
passando pelo casario de Beberino
e pela sua rua principal.
Fica-nos aqui a imagem de uma aldeia nitidamente encostada ao sopé (base) da montanha.
A partir de Beberino, então, sim, ficámos com a sensação que, andando, começávamos a ser engolidos pela montanha, entrando no ventre da Cordilheira Cantábrica, na sua Montanha Central, com o rio Bernesga, nosso fiel companheiro durante 30 quilómetros, a nos abandonar, dando lugar ao pequeno rio Casares.
(Pormenor I)
(Pormenor II)
(Pormenor III)
(Pormenor IV)
Ao longo da estrada, íamo-nos entretendo a observar as diferentes formações rochosas junto às bermas, com os seus singelos,
e coloridos pormenores.
Até que, nos aparece, no meio do nada, a ermida de Nossa Senhora do Vale, padroeira de Buiza.
Aqui aproveitámos para fazer uma pequena pausa para descansar e bebermos água, tendo como companhia este belo e solitário cavalo, que se encontrava nos arredores da ermida a pastar.
Outra vez com a mochila às costas, percorremos o troço final desta nossa etapa até que, numa curva da estrada, aparece-nos o casario de Buiza.
O albergue fica logo no início da povoação.
Trata-se de um edifício que foi Escola Primária e que hoje, à falta de crianças para a frequentar, divide o seu espaço com o albergue e uma dependência dos Serviços de Saúde para atender os «maiores» do povo.
Parámos à entrada do albergue, enquanto não nos vieram abria a porta. O nosso companheiro Martin, que, vindo atrás de nós, fez o percurso solitário, aqui descansou um bocadinho, conversando com o Florens, e continuou o Caminho.
O albergue esteve só por nossa conta.
Fizemos a nossa higiene. Descansámos um pouco e depois fomos dar uma volta pela aldeia de Buiza.
À saída do albergue, do seu lado esquerdo, a meia encosta, e já fora do perímetro urbano da aldeia, vemos este caraterístico cemitério.
Penetrámos no povo de Buiza - encruzilhada de caminhos - e cheio de pergaminhos na história do Camiño del Salvador,
com casas de «filhos d’algo» já em ruínas,
outras novas e, ainda as mais antigas, com o seu casario típico da zona.
Chegámos até às proximidades da sua Igreja Matriz
para melhor nos certificarmos, junto a uma fonte e um tanque,
qual o percurso/desvio que deveríamos seguir para irmos pela «Forcadas de San Antón», ou seja, para atravessarmos a Montanha Central da Cordilheira Cantábrica, na sua parte mais alta e em que Buiza é a sua antecâmara.
Em Buiza há três alternativas de percurso: ir pelas «Forcadas de San Antón» (não aconselhável no inverno); ir por Rediezmo e, um uma terceira, por Villasimpliz (esta principalmente aconselhável no inverno por causa do nevoeiro e da neve).
No cimo da aldeia, e um pouco ao lado da sua igreja, fomos dar com esta Casa de Turismo Rural,
construída com materiais típicos da região.
No seu logradouro, este poço com esta singular decoração
e este carro de bois.
Da Casa de Turismo Rural esta panorâmica para a fachada lateral da igreja da aldeia e para a montanha, que começa já aqui.
Enquanto fizemos o reconhecimento do povo e do casario de Buiza, entrámos num café, o único da localidade. Tomámos um pingo, enquanto víamos a primeira parte do jogo da Liga Espanhola entre o Real Sociedad e o Real Madrid. Numa mesa os «maiores» jogavam cartas, dando uma olhadela, de quando em vez, para a «pantalla» da televisão.
No início da segunda parte do jogo saímos do café e dirigimo-nos para o albergue, não deixando escapar mais uma típica casa do povo de Buiza.
Chegados ao albergue, aparece-nos, finalmente, o seu albergueiro, de nome «Angel».
Paga a estadia e selada a credencial, tentámos saber como resolver o problema das refeições do dia a seguir em Poladura de la Tercia, povoação onde não existe qualquer bar ou restaurante. Apenas há uma Casa de Turismo Rural que serve comida, marcando ou encomendando com antecedência. Obtivemos o telefone da Casa Rural «El Embrujo» e marcámos duas refeições (almoço e jantar) para o dia seguinte.
Quando telefonámos para o «El Embrujo», a senhora que nos atendeu ficou admirada por amanhã só irmos fazer 9 quilómetros - que é o espaço que separa Buiza de Poladura de la Tercia. Mas é assim: este Caminho, desde o início, estava programado para, como dizem os espanhóis (repetido pelo Florens), fazê-lo «despacio».
Jantámos os dois sozinhos uma saborosa massa. Conversámos um pouco e deitámo-nos. E tudo à nossa volta era um silêncio profundo.
O dia esteve bonito, cheio de sol. E, caídos à cama, dormimos até ao outro dia como dois «anjos»...
(Parede colorida de uma casa de Buiza)
POR TERRAS DE PORTUGAL
BRAGA DE ANDRÉ SOARES
A CAPELA DOS MONGES DA IGREJA DOS CONGREGADOS
Quem foi André Soares (Braga, 1720-1769)?
Na obra de Eduardo Pires de Oliveira, com fotografia de Libório Manuel silva, com o título «Braga de/by André Soares», Eduardo de Oliveira afirma que “foi um criador de obras de arquitetura, talha, ferro, desenho e cartografia. A sua grande capacidade financeira permitiu-lhe não precisar de trabalhar. Como era corrente na época, as suas obras dividem-se por duas correntes artísticas: o rococó e o tardo barroco. O rococó chegou a Braga pela mão do arcebispo D. José de Bragança (1741-1756). André Soares beneficiou do seu apoio ao ser escolhido para desenhar o novo Paço Arquiepiscopal, em que oscilou entre o gosto joanino e os novos valores do rococó. Rapidamente, porém, mudou para o novo estilo, de que são exemplos a nova fachada da Capela de Santa Maria Madalena da Falperra e o Palácio do Raio. [obras de que brevemente falaremos num outro post]. Mas também fez muito rapidamente uma nova inflexão decisiva: as obras de arquitetura passaram a ter um desenho que se revê num tardo barroco desornamentado e as de talha mantiveram-se num rococó vibrante, ideias que manteve até ao final da sua vida. A sua obra está espalhada um pouco por todo o Norte de Portugal: Braga, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Vila Verde, Esposende, Guimarães e Vila Nova de Gaia (esta perdida)."
Na verdade, André Soares foi o maior vulto do rococó português. Autodidata, desenvolveu a sua arte a partir de gravuras de Augsburgo. A sua obra é profundamente emotiva. A capela dos Monges, no Convento dos Congregados, em Braga, pode contar-se entre as mais impressionantes do tardo barroco na Europa. E é precisamente esta obra que vamos mostrar ao(s) nosso(s) leitor(es).
Citemos, uma vez mais, Eduardo Pires de Oliveira: “A capela dos Monges, situada no primeiro andar,
num local acima da capela-mor da Igreja [dos Congregados]
é, sem dúvida alguma, a obra-prima de André Soares [...] De pequeníssimas dimensões, não albergará mais de uma vintena de pessoas em simultâneo.
Apesar da sua exiguidade, é formada por todas as partes de qualquer templo:
nave, transepto e capela-mor,
embora esta seja na verdade muito diminuta. Em contrapartida, tem na nave um extraordinário lanternim.
(Aspeto geral)
(Pormenor)
Apresenta ainda uma característica invulgar no Minho: a estrutura e os motivos decorativos que a ornamentam são em estuque [e não em pedra]”.
Quase a terminar, o autor avalia: “[...] é fácil perceber-se que é um trabalho do final da vida, podendo mesmo pensar-se que é o seu testamento artístico”.
MEMÓRIAS DE UM ANDARILHO
CAMINHADAS NAS VIAS FÉRREAS ABANDONADAS
LINHA (DE CAMINHO DE FERRO) DO CORGO
Vila Real - Ermida/Povoação
- 20.novembro.2010 -
Vai para cerca de dois meses que não produzimos qualquer post para este blogue.
Circunstâncias várias, entre as quais as férias e o excessivo calor, contribuíram para que nos dedicássemos mais à leitura que à escrita.
Mas não queríamos deitar este mês de agosto fora sem completarmos a reportagem sobre a nossa caminhada na Linha do Corgo.
Já lá vão, aproximadamente, seis anos. E, entretanto, nestes seis anos, quer nas nossas vidas, quer ao longo do trilho da linha, muita coisa se passou. A reportagem desta etapa, no que diz respeito a este último item, é bem ilustrativa.
A nossa anterior etapa foi realizada entre Samardã e Vila Real, em 7 de novembro de 2010.
Esta é a sexta etapa, realizada em 20 de novembro de 2010, entre Vila Real e Ermida/Povoação.
Para além dos quatro caminhantes das últimas etapas - nós, o Rui, o Toquim e a Ana - nestas duas últimas veio-se juntar a nós um amigo de outras caminhadas noutras paragens, transmontano de cepa, mas vivendo para a zona dos «mouros», em Alcochete - o amigo Neca.
Para completarmos exatamente os 25.069 Km que nos faltavam, entre Vila Real e a Régua, decidimos percorrê-los em dois dias seguidos, num sábado e num domingo.
A logística assentou em levarmos de Chaves um atrelado tenda e colocá-lo ao lado da Estação da Povoação, onde realizaríamos ali o nosso jantar e dormiríamos.
Assim, na manhã do dia 20 de novembro de 2010, o Jeep Land Rover do Rui levou o atrelado tenda, montámo-lo e, no nosso carro, viemos, ao princípio da tarde, até à Estação de Vila Real para darmos início à etapa. Nosso cunhado Augusto, de Loureiro, Régua, trouxe o irmão Neca para se juntar a nós.
Ao princípio da tarde, começámos a caminhada. Ameaçava chuva. No início ainda caíram umas pinguinhas. Mas foi somente de molha tolos.
À saída de Vila Real, o arco-íris que aqui vemos
demostra o estado do tempo que se fazia húmido e chuvoso.
Contudo, com o decorrer do tempo, e apesar do receio da chuva, o tempo compôs-se, apresentando-se um tempo relativamente soalheiro.
Percorridos menos de dois quilómetros, depressa o grupo se partiu: Rui e Neca eram a locomotiva, indo à frente, em amena cavaqueira; Ana e Toquim, um pouco mais atrasados, iam animados e, aqui e ali, apreciando a paisagem e tirando fotografias, enquanto, lentamente, a paisagem se ia transformando no verdadeiro Douro Vinhateiro. Nós, ainda mais devagar, íamos mais recuado, filmando e tirando fotos.
Até que, a certa altura, cremos que antes de entrarmos nos limites de Folhadela, demos com este Marco de Feitoria,
com data de 1761, completamente abandonado no meio de um silvado. Este marco fez parte dos 134 colocados naquele ano, e que corresponde a uma alargamento da delimitação anterior feita poucos anos antes a mando do Marquês de Pombal.
Desta feita, neste local, em boa verdade, e para sul do termo de Vila Real, nas proximidades de Folhadela, começa o nosso Douro Vinhateiro.
Também nos limites de Folhadela, eis as obras de construção para o grande viaduto sobre o rio Corgo da A4
e que hoje podemos observar com toda a sua elegância e beleza.
A partir daqui, penetrámos no vale profundo do Corgo,
onde a vinha, a oliveira
e o sobreiro (Quercus suber)
são uma presença constante nesta paisagem, e onde as povoações, de corres albas, nos aparecem ao longe.
(Cenário I)
(Cenário II)
(Cenário III)
O rio Corgo, ziguezagueando, traça a bonita orografia do terreno.
Até que chegámos ao Cruzeiro. Olhando para o céu azul, quase coberto de nuvens, vemos a silhueta do viaduto sobre a IP3 (A24), na linha do horizonte, assente num calvário de socalcos.
Um pouco antes do apeadeiro de Carrazedo,
começa o pequeno vale da Ermida e da Povoação.
Nas proximidades de Carrazedo, entre o PK 16 e o PK 15,9, aqui
e ali
aparecem-nos solares envelhecidos pelo tempo e pelo abandono, lembrando-nos que por ali já se passaram melhores dias para uns, mas que, para outros, foram de sofrimento e escravidão, a que o cuidado constante da vinha (e do debelar das suas moléstias) os sujeitavam.
Por estas paragens não se vê outra coisa senão socalcos de vinhedos, entremeados por oliveiras.
Depois de percorrermos 13.627 Km, chegámos à povoação de Povoação e junto da sua antiga Estação.
O Rui, cozinheiro de serviço, preparou-nos uma saborosa massa de vitela, bem regada com molho de tomate.
Convidámos para comensal o nosso cunhado Augusto.
A certa altura, aparece-nos no atrelado tenda o amigo Borges, familiar do famoso Dr. Borges, nosso professor de hebraico, no Seminário de Vila Real, que nos providenciou o local para nos alojarmos.
Regámo-nos bem com um bom Vinho Fino, a ponto de, quando os nossos convidados partiram, já bem atestados, e o nosso amigo Neca também, com o irmão, a «festa» na tenda durou pouco tempo. Positivamente já estava tudo «pedrado».
Levantámo-nos com a cabeça pesada, mas cheios de genica para desmontarmos o atrelado tenda
e ansiosos por dar início à última etapa desta nossa caminhada pela Linha do Corgo.
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